domingo, março 26, 2006

Convite

Hoje ganhei coragem e convidei-te. Não calculas os cenários que me passaram pela cabeça antes de o ter feito. Senti-me vexado depois de o fazer, mas decerta forma, mais confiante, mais senhor dos meus actos. Convidei-te hoje, e foi algo tão complexo que envolveu este gesto timido. Convidei-te e não me arrependo. Convidei-te, aceitas?

sábado, março 25, 2006

Amigos

Dei por mim hoje, enquanto esperava pela minha vez de ser atendido pelo médico, numa certa meditação. Lembrei-me de todos os meus amigos, os mais superficiais, os mais importantes (sim porque quer se diga que não há melhores/"piores" amigos, há sempre aqueles que estão mais próximos e os que não o estão), no fundo, de TODOS. E com isto, estive à vontade uns 20 minutos, a relembrar-me de inumeras, para não dizer mesmo milhares de situações que passei como cada um, ou com um grupo deles. Festas de anos, discussões, desabafos, cafés, noitadas, "fumicios", bebedeiras, enfim, um enorme leque de situações. É engraçado como após já alguns anos de algumas dessas recordações, consigo olhar para trás e percorrer toda essa recordação de novo. Golpes de Karaté às tantas da noite, afirmações que diziam que tinham visto o gás de um isqueiro quando este rebentou, ir a casa acordar alguém que dormia até as 4 da tarde aos sábados, o barulho de um garrafão de 5 litros, cheio, a rebentar no chão da minha cozinha, etc. No fundo quer apenas dizer que, é optimo conhecer-vos a todos, é bom ter amigos.

sexta-feira, março 17, 2006

Realidades

“As pessoas cá são diferentes. No outro dia, no metro, estava um velhote de canadianas e não se conseguia levantar. Eu e um amigo fomos lá, ajudámos o senhor a levantar-se a e fomos amparando-o até ao metro. Não havia lugares e eu tive de pedir por favor para alguém se levantar, porque mesmo vendo o velhote e mesmo com os bancos para pessoas idosas, ninguém se levantou. Levámo-lo ao autocarro no Campo Grande, e ele desejou-nos toda a saúde e sorte do mundo. Nós fomos educados assim percebes? Para nós as pessoas idosas são sábias, e devemos todo o conhecimento a elas. Respeitamo-las, honramo-las e cuidamos delas.”

(...)

“A televisão fala uma verdade muito facciosa porque o que escandaliza são os gritos histéricos e as bandeiras queimadas. Discussões racionais não vendem e, é cheia de fanatismo que vendem a imagem do meu povo ao mundo.”

(...)

“Há uma senhora holandesa que desde sempre vai passar férias a minha cidade natal. Ela gosta mesmo da Palestina. Ama a terra e as suas gentes e sempre foi tratada bem. Já ficou em minha casa tantas vezes, assim como espanhóis, italianos que pedem para pernoitar. Com amabilidade os recebemos e damos estadia sempre sem pedir nada em troca. Aquela tal senhora já me disse que quando se reformar vai viver para lá, e eu perguntei porquê. Ela respondeu-me que adorava as pessoas e o seu calor e já lá levou os filhos e tudo.”

(...)

“Todos os meus amigos que lá estão já acabaram o curso e estão agora desempregados. O desemprego de licenciados na Palestina atinge os 75%. Só quem é filho de um dos muitos corruptos é que se safa. Que objectivos de vida pode ter um jovem de 25 anos que passa os dias sem fazer nada?”

(...)

“A minha infância foi muito diferente da tua sabes. Tu se calhar nunca viste uma pessoa morta, eu vi um homem levar um tiro na cabeça à minha frente quando tinha 5 anos. Durante meses não consegui dormir uma noite seguida com os pesadelos. Depois quando os raids israelitas se intensificaram tinha gás lacrimogéneo em casa de duas em duas semanas. Quando tinha 8 anos levei um tiro na perna. Tenho um sobrinho de 9 anos e, uns meses antes de vir para Portugal, houve um grande raid na minha terra. Cheguei a casa a fugir dos barulhos e do pânico e a minha irmã chorava porque não o encontrava. Eu disse que o ia procurar e ela respondeu “não saias de casa que podes morrer”. Mas morrer na rua ou em casa não faz lá grande diferença e saí para procurá-lo. Corri algumas ruas e fui ao posto médico. Encontrei-o lá sentado à porta a olhar para a enxurrada de corpos e pessoas mutiladas que chegavam. Ele estava petrificado a olhar para uma cara completamente ensanguentada e perguntou-me se eu estava a ver aquilo. “Claro que estou a ver” – disse eu – “Mas o que estás tu aqui a fazer?”. Ele tinha fugido para ali, e rapidamente o levei pelas ruas que achava mais seguras para casa. “Tantos corpos, tio. Foram os judeus, tio. Vamos matá-los, tio, vamos.” – Disse ele durante a viagem toda de regresso. As pessoas admiram-se e questionam as razões de tantos jovens que se explodem, mas a verdade é que por dentro, já explodimos há muito tempo.”


Excertos de uma longa conversa que tive com um amigo meu, uma noite destas.

quinta-feira, março 16, 2006

Patriotas gritam mudos, em ecos do vazio, por um mundo que foi outrora...

domingo, março 12, 2006

O mundo do silêncio

Estava a subir para a Estrela no 38 e tentava esconder a dor de cabeça e a sede. O autocarro encontrava-se cheio de odores, mas pior que isso de barulho. Ouvia histórias de todos os cantos, desde o que aconteceu num certo intervalo entre geografia e matemática, ao o que o doutor receitou para os ossos. O barulho do motor ressoava nos meus tímpanos e as buzinas frenéticas dos carros ao lado explodiam em mim com a com a mesma velocidade que os condutores cometiam contra-ordenações. No meio daquele assalto que os decibéis me faziam, reparei em dois miúdos dos seus quinze à minha frente. Estavam a gesticular e não emitiam um som. Mas o que raio era a aquilo? Porque não gritavam eles também? A resposta demorou um pouco devido à minha lentidão de pensamento ou ao carro que mal estacionado, forçou o motorista a pressionar a buzina megalómana do 38. Eles sorriam e conversavam com a fluidez impressionante do movimento de mãos, dedos e braços. O mundo deles não têm ruído de fundo mas têm a magia de uma vontade de viver que eu ainda não alcancei.

quinta-feira, março 09, 2006

Tomada de posse

Dinheiro gasto nas campanhas presidenciais? Balelas. Isto sim é esbanjar dinheiro.


Sorriam alegremente portugueses, o pai daquele senhor que devido à inserção social dos deficientes está à frente de 50 estados veio visitar Portugal. É o êxtase!

terça-feira, março 07, 2006

Esquece

Preciso desse aroma frutado,
Que emana da tua pele imaculada.

Preciso da tua boca agora
E nem preciso que me digas nada.