segunda-feira, abril 25, 2005

Classificados

Procura-se Alma Gémea, para juras de amor eterno e intensa paixão ardente. Favor contactar quanto antes.

Esta velha angústia

Este poema adequa-se na perfeição ao que sinto... Up-la-oh!, grande Engenheiro!!!



"Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicómio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicómio sem manicómio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...

Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu tecto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, a por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer —
Júpiter, Jeová, a Humanidade —
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?


Estala, coração de vidro pintado!"


Álvaro de Campos

sábado, abril 16, 2005

Eu na fexta da xpuma, comentem!

Hoje apeteceu-me criar um fotolog.
Procurei as minhas melhores fotos, alterei algumas no photoshop (preto e branco, sépia, cortar aqueles que não interessam) e coloquei tudo on-line.
No messenger passei o URL a uns quantos amigos na esperança deles comentarem e passarem a palavra a outros. Sentia uma necessidade narcisista incrível. Queria que me dissessem que estava bem, muito bonita nas fotos. Queria mostrar-me ao mundo. Expor-me e expor os meus amigos, coisas e vivências. Partilhar pedaços de mim, de tempo e imagens que se eternizaram na minha memória. Parecer feliz!
Queria, ao fim e ao cabo, que entrassem na minha vida, que a percebessem como eu! Sobretudo, que a sentissem e me valorizassem pelos meus actos! Esquecia-me que as coisas só têm significado para nós mesmos!

E puff!
A C O R D E I!
Que susto! Que alívio... já me sentia a partilhar demasiado de mim mesma! Estava a entrar numa onda de auto-promoção que tanto odeio.

Coloco um gorro na cabeça e estou pronta para mais um dia!

quinta-feira, abril 14, 2005

Nihil

O problema que se concretiza agora é a certeza indelével de não haver uma existência prévia, nem indícios de uma futura!
Chegar a esta idade e aceitar finalmente a terrível ideia de que não chegámos a viver realmente. Que os anos passaram por nós, e não nós por eles. Tudo nos escapou das mãos, de forma tão rápida quanto nos atingiu. Olho para as minhas e vejo um caminho traçado. No entanto, olho por cima do ombro e não vejo atrás de mim qualquer rasto.
A única certeza é a de um fim próximo que me aturde espontaneamente. Sem escapatória possível.
Tenho medo e carrego no coração uma mágoa tal que não desejo a ninguém. Várias foram as paixões mas nunca a verdade. Nunca o encontrámos Amigo. Nunca vimos felicidade no vazio infinito.
Ríamos de mãos cheias de promessas, mas vazias de sentido, orientação. Tínhamos rumo, mas nunca alcançámos a rota.

Procuro-te incessantemente, desesperada. Perdida, na vontade de te encontrar. Só não sei quem és...

domingo, abril 10, 2005

Geração Cor-de-rosa

Denominei "Geração cor-de-rosa", mas podia estar horas sem fim que me ocorriam sempre novos nomes. Lembrei-me agora de outros dois que se enquadram bastante bem: "Geração das palavras da boca para fora" e "Geração da linguagem sem sentimento". Acho um piadão quando leio e oiço juras de amor eterno, com palavras como: "Amo-te muito mor", "Amo-te tanto que doi lindo(a)" ou o mais tradicional "Amo-te". Agora vêm a parte da piada. Quem diz estas coisas (que para mim significam tanto, muito... Tudo!) são miudinhas e miudinhos do alto dos seus 13 anos ou mesmo gente mais graúda de 14 anos e alguns meses. Posso ser eu que sou diferente, ou talvez muito antiquado, mas não será um "Amo-te" forte de mais para a idade em que começam a crescer uns pelitos na cara dos rapazes e um avolumar de curvas nas raparigas? Acho que há muita confusão nestas cabeças cor-de-rosa. Se na quarta hora de namoro (ou de "andar") se diz à outra pessoa que a ama, qual será a força dessa palavra no futuro quando uns anos mais tarde se descobrir mesmo o Amor? Pode ser que eu esteja muito errado, e não quero ser hipócrita, pois eu também já fui um protótipo de adolescente e também namorei com essa idade. A diferença é que eu dizia: "Gosto de ti" e longe de mim usar ou sequer saber como manejar o poder, mistério e encanto que o "Amo-te" têm. Talvez seja eu que dou demasiada importância ás palavras, talvez seja eu que não esteja preparado para este novo século... não sei. Só sei que acho de arrepiar a facilidade com que sai um "Amo-te" nesta nova fornada de mentes para o terceiro milénio. Sinto que se está a perder a mística das palavras. É tão triste... Não tornem palavras que significam algo que sempre foi (e sempre será) para além da nossa compreensão em meros tópicos no MSN por favor... Guardem o "Amo-te" porque um dia quando amarem, o que dirão á outra pessoa para lhe pôr um sorriso nos lábios? Amo-te? Já o disseram a 10 pessoas antes! Peço de joelhos... não tornem o "Amo-te" num som que sai das cordas vocais ou uma palavra em Comic Sans MS envolta em asteriscos. Eu adoro tanto o português, porque não é como o "I love you" em inglês. É algo mais forte! Algo que se está a perder se não for feito nada antes... Tenho pena...

segunda-feira, abril 04, 2005

Cartas de Amor

Se falarem com as vossas antecessoras verão a importância da ida domingueira à missa! A semana era passada entre trabalhos domésticos e algumas aulas, entre as quais a catequese. A roupa de domingo era religiosamente guardada e limpa, não podendo ser usada noutra situação.
Ao chegar ao dito dia, partiam pela manhã com sorrisos estampados nas bochechas magras. Viam-se imensos jovens, irmãs de braço dado que cochichavam entre si e alguns rapazolas imberbes, também felizes, que comentavam a partida do dia anterior.
- “Quanta Juventude!” – afirmava o padre contente pelo seu empenho na doutrina paroquial.
Mas tudo isto porque era o único dia da semana em que rapazes e raparigas podiam permanecer mais tempo a entreolhar-se, em sorrisos tímidos e algumas piscadelas de olho. As sortudas recebiam cartas perfumadas cheias de promessas joviais e de amores infinitos.

Depois nascemos nós. Poucos eram os que iam à missa mas havia telefone! Era só ter um amigo melhor informado que sacasse facilmente a informação pretendida ou, em casos mais extremos, recorria-se à bela da lista telefónica.
Mais sorte tiveram os nossos irmãos. Já com computador e Internet em casa, teclavam durante horas a fio no mIRC. Aí podiam conhecer quem quisessem e melhor, ser quem quisessem. Para acompanhar, tinham telemóvel. “TE – Te!” e mais uma mensagem!
Os que não tinham tais modernices, espécimes raros neste mundo consumista, podiam sempre aproveitar-se das discotecas e bares que começaram a brotar freneticamente por essas cidades fora.

Evoluindo, surge o Messenger; mais uma vez, necessitando de um amigo com conhecimentos alargados, já que é necessário o e-mail da pessoa em questão. Paralelamente, há fotologs e hi5 que dão a provar um pouco da fisionomia, amigos, cão e gato, entre outros que tais.

Agora digam-me, daqui a 30 anos, qual o romantismo de possuir um log, versão Word 2000, que nem sequer é compatível com o vosso sistema operativo? Eu, sinceramente, continuo a primar pela existência das cartas de amor tradicionais. Não é muito mais engraçado encontrarmos resquícios de pétalas de uma flor, erros ortográficos numa letra tímida e sentir pela “primeira vez” o perfume daquelas folhas amarelecidas pelos anos?

Acto Falhado

Ando de um lado para o outro,
Irrequieto dentro e fora de mim.
Com este vendaval de suposições,
Não admira que me chamem louco.
Não admira que tudo esteja assim.

Dizem-me: "Melhores tempos viram,
Verás como tudo irá mudar."
Aceno. Digo que acredito,
mas cá dentro penso: "Ou não."
Que raio de forma de estar.

Fantasio com finais da taça,
Para ver se me alivio e destraio.
Têm pouco ou nenhum resultado,
A confusão nem com lixivia passa.
Vivo num tubo de ensaio.

Não há meio de acalmar,
mas isso, já estou habituado.
Penetro pela floresta,
começa-me a faltar o ar.
Pela sombra tenho destino traçado.