terça-feira, março 22, 2005

Parque

Olho pela janela e vejo um dia solarengo de Março, com algumas nuvens que não ameaçam a benção da chuva. Visto umas calças de ganga, duas t-shirts por baixo de uma sweat azul forte com algumas riscas transversais, mais ou menos a meio, e calço os ténis da praxe. Aqueles cinzentos que já me levaram a todo lado. Já me levaram ao encontro de tantos sorrisos e alegrias, mas também alguns dissabores. Pouco importa. É com eles que me sinto bem. Saio de casa com um sonoro "Até logo!" e ponho-me a caminho. Destino: Parque.
Caminho bebendo todos os estímulos que consigo, tantos que até tenho receio de me engasgar. Observo tudo, sempre calado. Sou assim há imenso tempo, tanto que já nem me lembro da primeira vez que comecei a reparar no mundo ao meu redor. Engraçado é quando entre amigos (amigo para mim é mesmo amigo (!), não é aquele tipo de amigo que é só amigo...) eu noto algo, e sei que ele o reparou também. Só com uma troca de de meio segundo e meio nós sorrimos, rimos e temos uma conversa que duraria horas com outra pessoa qualquer. Como gosto quando isso acontece! Continuo por entre a multidão típica de uma cidade simpática do litoral até que vislumbro uma cara conhecida. O meu cerebelo e as amigdalas fazem a troca de informação do costume e apercebo-me num instante de quem se trata. É um amigo... "Então s'bem?", "yep, tudo e contigo?", "calor bacano, hein?", "nada... nunca se faz nada.", "fica bem então, hasta!" E pronto, cada qual segue o seu caminho após um ruídoso "poc" que saiu do aperto de mãos. Avanço mais umas passadas e eis o Parque.
Passo o portão e inspiro este cheiro colorido emoldurado em tons de verde. "Adoro este sítio". Dirijo-me à esplanada onde combinei com amigos(!) ir tomar um café. Ninguém chegou ainda. Sem stress, eu espero. Sento-me na cadeira verde com um grande autocolante duma cerveja bem conhecida. Ao longe um sujeito alto e esguio dirije-se para mim. Não lhe dou mais de 28 anos, vêm de preto e com uma bandeja prateada na mão. Têm um ar de quem não pode mais com este sítio que tanto adoro.
-Que deseja?
Que desejo? Boa pergunta, que desejo eu?! Para já parar para pensar um bocado, porque essa pergunta necessita de alguma reflexão. Que desejo?! Desejo... Desejo... Já sei! Desejo ver o mundo do alto de um avião! Melhor, desejo ter uma palavra mágica tipo "abra-cadabra" e que ao dizê-la eu me eleve no ar e saia a voar para onde muito bem entender. Desejo poder passar tardes, noites e manhãs maravilhosas rodeado das pessoas que amo e que me fazem gostar tanto de viver. Desejo arranjar maneira de deitar cá para fora o imenso que fervilha bem fundo e que ameaça a erupção tantas vezes, mas que depois entope sempre e me deixa com uma frustração irrequieta. Desejo encontrar aquela pessoa que me tire do sério, aquela pessoa que faça com que todas as lutas valham a pena, aquela pessoa com a qual eu não tenho medo de chorar, rir, gritar, pular, sentir... de viver. E mais. Desejo que eu seja para ela a pessoa com a qual ela quer viver até a exaustão. Desejo ser a enzima que lhe catalize o humor para uma alegria constante. Desejo amar e ser amado intensamante. Desejo poder ser uma velhinho babado ao olhar para as sementes que palpitam com um pouco de mim dentro delas. Desejo a algazarra dos Natais em família. Desejo ter 76 anos e jogar a sueca neste mesmo Parque com os meus amigos(!) e manter a mesma cumplicidade nos olhares. Desejo viver, desejo viver embaranhado no amor das pessoas por quem eu tudo dava. Desejo que elas sintam o meu amor e que saibam que eu sem elas nada era, nada sentia, não vivia. Desejo, tal e qual uma miss antes da coroação, deseja a paz no mundo, o fim da fome, da miséria, da exploração e de todas as pulsões egoístas que tantos homens e mulheres insistem em ter. Desejo vencer medos, quebrar barreiras, relembrar velhos tempos, jogar a bola, respirar ar puro, saborear tons de azul, verde, amarelo. Desejo o nervoso miudinho que antecede sempre os grandes momentos. Desejo sentir o infinito a fazer-me cócegas nos pés. Desejo ser poeira cósmica que dá valor ao seu universo. Enfim... No fundo o que realmente desejo é o mais banal e mundano de todos os desejos... Desejo que ao ser muito feliz, possa fazer com que quem me rodeia seja igualmente feliz. Ou mais.
-Olhe... Perguntei-lhe que deseja?
-Desculpe... pode ser um café e um copo de água por favor.

2 Comments:

Blogger Stx said...

Hum hum... ;)

HUGe kiss*

3/23/2005 09:23:00 da tarde

 
Blogger Xita Primavera said...

bunitu... mt bunitu =)
******************

4/03/2005 07:51:00 da tarde

 

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