sábado, março 05, 2005

Manifesto Anti DantEs

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Falam alto na rua para que as pessoas do outro lado consigam ouvir. Nos autocarros falam para os netos ao mesmo tempo que estabelecem contacto visual com a pessoa da frente, para que também ela lhe possa dar um pouco de razão e confirmar os seus males.
Mal te veem, nem te perguntam como estás. Dizem que estão mal, mal, que este tempo é terrível, que a Alzira também anda com reumático. Olham para nós e "oh, tu também estás com os olhos vermelhos. Cuidado pode ser um princípio de gripe. A Mizé também andou assim uma semana e depois caiu de cama". Mala no ombro, saco xadrez com as compras numa mão e a outra a resguardar um guardanapo usado nas repetidas assoadelas que assombram os dias destas velhas. "E as pensões vão mal", " e o governo", "e já ninguém quer trabalhar. Quando eu era jovem a vida era difícil. Havia muitas dificuldades", "eu? oh... reformei-me mais cedo. Não podia com a ciática..."