sábado, junho 25, 2005

Évora

Em ti fui feliz. Em ti passei os melhores momentos da minha vida, sempre com um sorriso verdadeiramente genuíno estampado no rosto.
Quantas vezes me esqueci de mim próprio ao percorrer as tuas confidentes calçadas, a quem tudo confessei. Tremendo privilégio, tal é a sapiência delas, depois de tantos grandes homens as terem percorrido.
Ah Évora, Évora. Recordo com uma saudade indómita as praxes. Que tempos, que tempos. Quanta alegria transbordante das noites que juntos passámos, quantos bons momentos.
A minha janela solta um suspiro tremendamente profundo. Ao olhar para ela deparo-me com o meu próprio reflexo, e penso: Hoje sou uma pessoa infinitamente melhor após ter contactado com vocês, o esplêndido e único pessoal de Veterinária.
Jamais me esquecerei daquela noite passada em branco em frente ao Templo de Diana “Bicho, quero ouvir essa estátua a ter um orgasmo”, desse mesmo amanhecer em frente ao teatro Garcia de Resende, da praxe da Mitra “Que situação de merda!”, da Mitra em si, dos seus animais, da sua paisagem fortemente bucólica, do Manel dos Potes “Bicho, você já tá com os copos”, da sublime Praça do Giraldo, da magia do Colégio do Espírito Santo... De tudo. E muito menos de vocês, sim, todos vocês, por todos os infindáveis e inesquecíveis momentos que passámos. Ao pessoal do primeiro ano, a minha enormíssima gratidão, simplesmente, por tudo. “Somos bons!!!
Urge continuar a demanda. Há inúmeros caminhos a trilhar e muitos ensinamentos que reter, na busca incessante pela plenitude.
Não, Évora, não te deixarei nunca. Sei que uma parte de mim continua a percorrer as tuas calçadas, infindavelmente absorto em pensamentos errantes, dissertando sobre a prolixidade do Ser.
Hoje despeço-me de ti. Não é um adeus, mas um até sempre, oh mágica cidade.
Em ti, “confesso que vivi”.

domingo, junho 12, 2005

Bones sinking like stones, All that we fought for, Homes, places we've grown, All of us are done for.

"Tchau pessoal", é assim que me despeço dos amigos depois de mais uma noite. Não tem nada a ver com a companhia, mas apetecia-me ir embora. Começo a voltar para casa e ligo o mp3... Ultimamente não faço nada sem a música. Têm um poder imenso sobre mim, cada vez mais o percebo. Viro a direita naquele café onde tantas vezes a minha mãe me mimou com "lagartos". Tanto que eu adoro esses bolos, fazem-me lembrar a minha infância. Adorei a minha infância. "Coldplay - Don't panic" começa a passar. Que som... estou completamente envolto nele que passo a minha casa. Está uma noite tão fixe e eu sem sono. Precisava de tar sozinho i guess. Deambulo por outra rua. "And we live in a beautiful world, Yeah we do, yeah we do..." Pois vivêmos... Mas não consigo deixar de ter pânico. Tenho medo de voltar a sentir... Estou tão dormente no meu casulo absurdo e o mais esquesito é que eu me alimento desta melancolia crónica em que vivo. Acelero o passo. Apetecia-me correr sem parar... Mas não o faço. Um carro passa por mim e uma rapariga põe o braço de fora da janela e grunhe qualquer coisa que não percebi. Não percebo o que acontece ás pessoas a partir dos 10 anos. Acho que 95% das crianças sofrem lobotomias antes da puberdade e perdem 1/3 do cérebro e depois tornam-se nos belos exemplares de idiotas que vagueiam a noite em massas de vácuo mental. Enfim... Eu vivo é pelas pessoas que encontrei que fazem parte dos 5%. Que vento bom. Ah... a musica muda outra vez não podia ser uma melhor... "The Shins - New Slang". Que noite tão amena e que má companhia que fui hoje. Mas não sei porquê hoje só me apetece chorar. Já não choro á tanto. Fazia-me tão bem lavar a alma. Chorar é tão refrescante e é tão bom soltar tudo para fora num momento que se torna explosivamente especial. E ao contrário do que muitos dizem chorar não é para os fracos, muito pelo contrário... É preciso ser tão forte para se chorar! Não é qualquer um que sabe chorar. Tento... Tento... Mas nada. Nem uma lágrima de crocodilo. Absorto em pensamentos difusos, que não tenho tempo de os anotar na minha consciência, dou por mim na entrada da minha rua. Avanço para a minha casa. Já chega de diambulações... Ou melhor não chega. Hoje é daquelas noites que vaguiava para sempre, mas a realidade brutal da minha vida impele-me a ir dormir. Já estou em casa. Olho para a cama... a cama olha para mim... Não. Ainda não é desta que adormeço. Agarro no caderno e começo a escrever...